segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Residência, Itu, SP - Maristela Faccioli e Regina Junqueira





Implantação respeita perfil do terreno e restrições ambientais
Situada em um condomínio fechado na cidade de Itu, a cerca de cem quilômetros da capital paulista, a casa de veraneio projetada pelas arquitetas Maristela Faccioli e Regina Junqueira mostra com clareza a intenção de respeitar o perfil natural do terreno, sem grande movimentação de terra, em contraste com construções nas imediações, que abusam de cortes e aterros.
Ao se aproximar da residência, localizada em um condomínio fechado na cidade de Itu, a primeira imagem que se tem é a de uma construção pavilhonar, com telhados de telhas de barro entremeados por duas torres de pedra. A visão de quem chega via noroeste - caminho mais fácil quando se usa a portaria principal do conjunto - é facilitada pelo vazio do lote vizinho.

“Procuramos implantar a casa rente ao terreno”, lembra a arquiteta Maristela Faccioli, enquanto beberica um capucino em um café no Itaim Bibi, em São Paulo. Sentada ao seu lado, Regina Junqueira complementa: “O recuo de 30 metros, resultado de restrições ambientais, forçou a implantação em uma das laterais”. Ambas, cada qual dirigindo escritório próprio, dividem a autoria do projeto.

Acercando-se mais da casa, avista-se um morrote artificial, que faz as vezes de muro. Ele foi idealizado pelo projeto paisagístico de Benedito Abbud e ajuda a deixar a residência mais resguardada da visão alheia.



A única porção aberta ao olhar e à passagem é o acesso, que desemboca em um pátio de chegada para veículos, pavimentado com pedras da região - um granito avermelhado. Lembrando a Acrópole, a perspectiva em 45 graus traz novas informações sobre o desenho: o telhado em uma água com peças aparentes de madeira que contrastam linhas inclinadas e ortogonais; volumes e planos de pedra que se contrapõem à alvenaria branca. A dimensão das peças de madeira e das telhas - maiores que o usual -, em um golpe de vista, pode até enganar os desatentos quanto às dimensões da construção.

O hall de acesso fica a meio nível, entre o piso de lazer (na parte mais baixa) e o térreo. A cota deste pavimento foi estabelecida de forma que a extremidade sudoeste, onde está parte dos dormitórios, ficasse pouco acima do solo; em contrapartida, o nível foi ajustado tendo como parâmetro o acerto do piso de lazer na mesma cota do gramado.

Assim, o térreo propriamente dito, onde estão quase todos os espaços domésticos usuais - estar/jantar, cozinha e dormitórios -, é elevado, funcionando como um mirante em direção do lago e da paisagem composta parcialmente por mata nativa. Na mesma cota do hall de entrada fica a área de serviço, facilitando a chegada à garagem.

A escada de acesso faz par com outra, de serviço. Ambas são visualmente marcadas pelas torres de pedra das caixasd’água. Esses dois elementos acabam criando três divisões transversais no extenso pavilhão: na porção perto da rua está a garagem e sobre ela o terraço da sala; no meio ficam o terraço/churrasqueira e, um piso acima, o estar/jantar e serviços; e, por fim, a área de lazer ocupa o piso inferior, enquanto os quartos estão no térreo.

Para aumentar a relação entre os espaços do grande ambiente de lazer, o terraço/churrasqueira e o jardim, as arquitetas idealizaram o maior esforço estrutural do projeto: são quase 15 metros de vão livre de pilar e viga.

Para isso, a testada acima da sala de estar é fechada por uma viga de onde parte um conjunto de três tirantes apoiando a laje do piso da sala. Como eles estão alinhados aos caixilhos, tal esforço não é facilmente identificado por desavisados. Nas duas laterais, pequenas mãos‑francesas ajudam o travamento.

Aproveitando a altura do telhado, dois dos dormitórios com vista para o lago possuem pequenos mezaninos, com camas para crianças. Nos quartos orientados para a face oposta, a solução da cobertura recaiu em um telhado voltado para uma calha central.

Assim, os dormitórios possuem cobertura do tipo borboleta, ou andorinha, que remete ao regionalismo crítico de Le Corbusier (evidenciado em seu projeto não construído no Chile, a casa Errazuriz, de 1931). A semelhança com o espírito dessa corrente ganha corpo pelo uso das paredes e volumes de pedra, realizados inteiramente por um só funcionário durante meses.

No projeto inicial, os espaços de lazer possuíam metade da área construída. Durante a execução - como o piso dos dormitórios era uma laje e não um aterro -, os proprietários resolveram ocupar uma espécie de porão formado pelo vão entre a laje e o perfil natural.

Para isso foi realizado um corte e muro de aterro. O aparecimento desse nível ajudou a criar uma extensa área de lazer - com piscina coberta, sala de ginástica e sauna -, mas por outro lado acabou prejudicando a leitura da sutil implantação original.

Já na rua, ao sair do café, Maristela recorda que, na última visita que fez ao local, com a casa pronta, ficou satisfeita com a utilização e as dimensões dos núcleos de escadas. “Acho que funcionou”, conclui.











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